Análise Hertzberger: Hiper Centro de Belo Horizonte

Oiie, eu gostei bastante de fazer esse trabalho, eu moro em Belo Horizonte a 1 ano e 8 meses, mas não conheço praticamente nada, pois, logo que me mudei começou a pandemia. Antes da Pandemia, por cerca de 1 mês e meio eu fiz uma rota passando pela Praça Sete e pelo shopping Cidade, indo em direção ao IEMG, que foi onde cursei o terceiro ano do Ensino Médio, mas eu fazia exatamente a mesma rota todos os dias, então eu não adquiri nesse tempo muito conhecimento sobre o centro. Por isso, esse trabalho me ajudou muito, acabou que conheci mais sobre o centro de Belo Horizonte nesse trabalho, do que conheci quando passava por lá.

Nesse trabalho tínhamos que analisar um trajeto conforme os conceitos desenvolvidos pelo arquiteto holandês Herman Hertzberger no livro "Lições de Arquitetura". Meu grupo foi composto pelo Aloísio, pela Luísa, pela Júlia, pela Miriã e por mim.

TRAJETO

O nosso trajeto começa na Praça 7 de Setembro, segue pelo calçadão leste da Rua dos Carijós, converge na Rua Espiríto Santo, segue na Av. Afonso Pena no sentido para o Parque Municipal até o lote triangular entre a avenida, a Rua dos Tamóios e a Rua Bahia. Então, passamos pela galeria da passagem Y e seguimos pelo Viaduto Santa Tereza, findando o percurso na Serraria Souza Pinto. 


PRIMEIRO TRAÇADO URBANO DE BELO HORIZONTE

O desenho proposto por Aarão Reis, deixava clara a intenção de ruptura com a antiga capital colonial, que cresceu sem nenhuma forma de planejamento, o que ressaltava vastas questões de insalubridade. Desse modo, a construção da malha urbana de Belo Horizonte, deu-se pelo traçado de uma grelha ortogonal e hierarquizada, que tinha o objetivo de que a cidade crescesse apenas dentro dela sendo delimitada por uma grande avenida- a Avenida do Contorno. No entanto, com o crescimento da capital, o projeto de delimitação tornou-se inviável.

Nota-se, pelo traçado, a grelha citada anteriormente. Pela perspectiva de Hertzberger, a organização da cidade por uma grelha se dá pela necessidade de ordenar o desenvolvimento dela, já que muitas cidades são formadas organicamente e resultam em um estado de desordem. Nesse sentido, o ordenamento funciona como uma espécie de grade e o desenrolar da cidade se daria por meio de uma essência organizacional semelhante a um projeto, em que a estrutura pré-estabelecida é respeitada. Contudo, é equivocado dizer que essa estratégia é opressiva, uma vez que o preenchimento das quadras é desenvolvido de maneira diferente com o passar das épocas, escalas e características do local. No exemplo de Belo Horizonte, isso é acentuado no loteamento destinado a essas grades, por exemplo, no início da construção da capital, a cidade foi dividida em algo semelhante a setores, como setor comercial, próximo as linhas ferroviárias, o setor nobre mais acima, onde ficavam as residências de alto padrão e a catedral municipal, e o setor dos principais equipamentos da cidade, como escolas e hospitais. No entanto, com as diferenças históricas e do público que habitou a região em diferentes épocas, tivemos a dissolução desses setores e hoje vemos na região central de Belo Horizonte uma mistura de comércios, residências, órgãos públicos, entre outros. Podemos, então, chegar ao conceito da Urdidura e Trama, em que, a grade seria a Urdidura, e as mudanças ocorridas no uso e detalhamento dos prédios que preenchem a grade seriam a Trama, ou seja, essa estrutura é flexível quanto ao detalhamento de cada sítio.

PRAÇA SETE DE SETEMBRO

Todo esse contexto, foi dado para que pudéssemos chegar ao nosso primeiro ponto do trajeto, a Praça Sete de Setembro. Temos, em suma, que ela foi desenhada por Aarão Reis no final do século XIX, o local já se chamou Praça Doze de Outubro. Mas, em 1922, o nome Praça Sete de Setembro tornou-se oficial, em função das comemorações do centenário da Independência do Brasil.

ESTRUTURA DA PRAÇA SETE DE SETEMBRO

Ela foi construída sendo um ponto de interseção entre as ruas Rio de Janeiro, Carijós e as avenidas Amazonas e Afonso Pena.

O aspecto aéreo observado na fotografia, ocorre devido a um tipo comum de esquina no sistema de grelha, em que é possível observar oito fachadas diagonais, que ampliam cada intersecção, formando a Praça Sete de Setembro e propiciando um alívio diante da monotonia das ruas e avenidas compridas. 

OS PRÉDIOS QUE CIRCUNDAM A PRAÇA SETE DE SETEMBRO

Nesse sentido, há oito construções que circundam a praça, em cada um de seus pontos. Os edifícios têm uma conformação triangular que acompanham à malha urbana e a disposição deles dirige a atenção para o centro da praça, o qual está localizado o Obelisco da Praça Sete de Setembro. A maioria dos oito edifícios que circundam a Praça Sete, possuem muitos vidros em suas fachadas, o que é bom pois aumenta o contato de quem está dentro deles com o exterior. Outro fator é que a fachada de alguns dos prédios antigos do entorno da Praça Sete de Setembro supõe uma organização interior dividida em diversos setores, no entanto, não são assim por dentro, reduzindo as fachadas a uma mera decoração urbana. Ademais, a falta de “intervalos” entre a portaria deles e a rua compõe uma demarcação rígida entre as áreas com diferentes demarcações territoriais.  

O OBELISCO DA PRAÇA SETE DE SETEMBRO

O obelisco da praça Sete é um marco comemorativo dos 100 anos da independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822. O monumento foi lançado em 7 de setembro de 1922, na confluência das avenidas Afonso Pena e Amazonas, local considerado o marco zero da cidade.

As diferenças de níveis, presentes no monumento, são “apossadas” em diversas situações no cotidiano. Na apropriação mais comum, as pessoas se sentam em sua base, normalmente grupos de amigos, para dialogar, o que cria um contraste em meio a grande movimentação existente no local todos os dias. Em outras situações, como protestos, os níveis mais altos servem como palco, para que a multidão ouça os apelos do grupo que reivindica algum direito, ou seja, representantes do grupo, sobem até o degrau mais alto da estrutura e fazem um apelo ao público diverso para que seus direitos sejam garantidos. Já em comemorações, como o carnaval e futebol, a praça é tomada por multidões que se divertem ouvindo as marchinhas carnavalescas ou comemorando a vitória de seu time.

O ESPAÇO DE CIRCULAÇÃO AO REDOR DA PRAÇA

Os corrimãos que circundam a praça, além de sua função principal de evitar acidentes, servem como apoio para mercadorias, como um local para as pessoas se apoiarem enquanto esperam o sinal abrir, como um local para apoiar bicicletas, dentre outras funções, ou seja, são uma forma polivalente, que possibilitam diversos usos sem a necessidade de mudar a estrutura original.


CALÇADÃO LESTE RUA DOS CARIJÓS

O calçadão leste da Rua dos Carijós é um trecho exclusivo para o trânsito de pedestres. Ele representa uma boa articulação entre o espaço público e o espaço privado por meio dos comércios que utilizam a rua para colocar mesas e cadeiras. Nessa situação, podemos ver a relativização entre público e privado e como isso muda a percepção do usuário sobre a responsabilidade de manutenção desses lugares. 

RUA ESPÍRITO SANTO

No quarteirão da Rua Espírito Santo é possível observar outros aspectos que se relacionam com o livro. Ao falar do espaço habitável entre as coisas, Hertzberger chama atenção para as irregularidades da cidade que ganham novos usos e articulações através da vivência cotidiana. Assim, qualquer superfície plana disponível tende a ser usada como bancada, apoio, assento ou encosto, explorando ao máximo as possibilidades de uso desse espaço. Contudo, ele também diz que, muitas vezes, esses novos usos cotidianos desagradam e, por isso, são desenvolvidas maneiras de evitá-las, o que seria a chamada Arquitetura Hostil, ainda que ele não use essa expressão no livro. Isso pode ser observado na seguinte superfície no cruzamento entre o calçadão e a Espírito Santo.

Também podemos perceber as demarcações territoriais definindo graus diferentes de acesso. A primeira imagem mostra a fachada de um banco com vidro fumê refletivo, o que passa a sensação de um acesso mais restrito quando comparada com a demarcação da segunda agência, que usa vidros transparentes na fachada.
Hertzberger disserta a respeito de construir uma janela para o mundo e de trazer o exterior para dentro, e, nesse caso, a cortina de vidro que fecha o térreo do prédio e acompanha o movimento da esquina parece desempenhar bem o papel  de criar uma interface entre o interior e o exterior.

As entradas dos edifícios abaixo mostram diferentes graus de articulação entre público e privado. O primeiro edifício tem os mesmo espinhos hostis na bancada das jardineiras, um material brilhante e grades nas portas, uma configuração que contrasta bastante com a acessibilidade da rua. Então, é uma demarcação bem clara do espaço privado. Já o segundo edifício, ainda que tenha vidro cercando-o, tem uma entrada mais gradual. Essa sensação se dá pelo uso do mesmo material na calçada e no pavimento desta entrada, representando uma continuidade do público - a calçada - para o interior desse espaço privado. Além disso, a portaria mais ao fundo e a vegetação também tornam a transição público-privado mais suave. Um outro aspecto dessa construção é a rampa íngreme de entrada-saída do estacionamento que Hertzberger cita como um exemplo de solução que é muito específica e que muito dificilmente se adapta a novas situações de uso, ou seja, não é polivalente.

Saindo da Espírito Santo e continuando na Afonso Pena, chegamos até o quarteirão triangular entre essa avenida, a Rua Bahia e a Rua Tamóios. Nela existe a passagem Y, uma galeria criada a partir de um anexo entre os prédios Sulacap e Sulamérica. Originalmente existia um vão entre esses prédios que era preenchido por uma praça.
Analisando segundo Hertzberger, o projeto original dos edifícios era um bom exemplo de articulação entre o público e o privado: os prédios de uso misto, residencial e comercial, eram estruturas essencialmente privadas, mas que dialogavam muito bem com o espaço público por meio da praça entre eles, que era usada como um lugar de passeio, além de proporcionar uma conexão visual entre a Avenida Afonso Pena e o Viaduto com a outra parte da cidade. Entretanto, a construção do anexo entre eles acabou “abafando” esse espaço público e aumentou o caráter privado do conjunto, pois a galeria só pode ser utilizada pelos pedestres em horário comercial e não é tão polivalente e convidativa quanto a antiga praça.

VIADUTO SANTA TERESA

O Viaduto Santa Tereza é uma estrutura polivalente, pois, sem necessidade de grandes alterações ou modificações, pode acomodar várias funções. Além de dar passagem ao fluxo de veículos, ele também pode servir de ponto de encontro para manifestações e suas muretas, muitas vezes, são apropriadas informalmente como assentos e apoios. O grafite, muito comum no viaduto e na parte inferior dessa estrutura - em frente a serraria -, é um exemplo de demarcação por parte dos usuários desta área aos olhos dos outros. Dessa maneira, a arquitetura é usada como um instrumento de afirmação da identidade dos usuários, no caso, muitos rappers e jovens, haja vista que várias competições de rap acontecem debaixo do viaduto.


Viaduto Santa Tereza e conjunto Sulacap Sulamérica ao fundo.

SERRARIA SOUZA PINTO

Logo no início do livro, Hertzberger discute a respeito do público e privado, e analisando esse espaço conseguimos perceber muito bem essas demarcações, a serraria é um local privado. Já do lado de fora, em baixo do viaduto, as ruas, são locais públicos, é uma área acessível a todos a qualquer momento e a responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente. 
Vemos Hertzberger falar também sobre as modificações de estranhos a um ambiente e traz como exemplo uma sala de aula no capitulo "De usuário a morador", onde ele aborda que se uma sala de aula for usada para outras finalidades fora do horário escolar pode ocorrer a mudança do local de objetos que já estavam previamente na sala, assim, trazendo aos usuários regulares da sala a sensação de perda em seu próprio espaço.
Conseguimos trazer essa ideia para o viaduto onde ocorre as batalhas de MC's e esta todo coberto de grafites, se a prefeitura chegar e pintar todo esse espaço escondendo o grafite, o público que frequenta esse lugar pode se sentira deslocado, já que criou uma certa familiaridade com esse espaço. 
No capitulo "Visão II", Hertzberger cita o uso do vidro na fábrica Van Nelle em Rotterdam, a qual sua fachada é majoritariamente composta por vidros transparentes o que permite plena visão tanto de quem está dentro quanto de quem está do lado de fora. Para ele a fábrica de tabaco Van Nelle, retirou toda a conotação anterior de desespero da palavra proletário. Não posso afirmar com total certeza que a intenção de quem projetou a serraria era exatamente essa, mas eu creio que seja essa sim, já que toda a fachada da serraria é coberta por janelas de vidros. 

No capítulo "A Rua" Hertzberger ressalta que a rua é um lugar onde o contato social entre os moradores pode ser estabelecido: "como uma sala de estar comunitária”. Nós conseguimos ver esse contato social nas batalhas que ocorrem aqui debaixo do viaduto, onde as pessoas podem se encontrar. É um local de ponto de encontro para pessoas que gostam da cena do hip-hop, podemos relacionar esse evento também ao capítulo "Domínio Público", no qual Hertzberger fala que as ruas foram originalmente o espaço para revoluções, e podemos considerar esse evento como uma revolução, pois, muito das vezes esse grupo foi marginalizado e com esses eventos tem ganhado um certo respeito.
E para finalizar a análise trazemos aqui o capítulo ‘O espaço público como ambiente construído’ que fala que até o século XIX havia poucos edifícios públicos, esses espaços públicos estavam quase sempre ao ar livre, mas com a revolução industrial abriu um novo mercado de massa. A aceleração e a massificação dos sistemas de produção e distribuição conduziram a criação de lojas de departamento, exposições, mercados cobertos e a construção da rede de transporte público, com estações ferroviárias e de metrô. A serraria teve sua construção nesse local de forma estratégica, pois aqui vemos a estação de metrô, e a linha férrea da central do brasil, o que facilitava o transporte de matérias da serraria.
 

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