Análise Hertzberger: Hiper Centro de Belo Horizonte
Nesse trabalho tínhamos que analisar um trajeto conforme os conceitos desenvolvidos pelo arquiteto holandês Herman Hertzberger no livro "Lições de Arquitetura". Meu grupo foi composto pelo Aloísio, pela Luísa, pela Júlia, pela Miriã e por mim.
TRAJETO
O nosso trajeto começa na Praça 7 de Setembro, segue pelo calçadão leste da Rua dos Carijós, converge na Rua Espiríto Santo, segue na Av. Afonso Pena no sentido para o Parque Municipal até o lote triangular entre a avenida, a Rua dos Tamóios e a Rua Bahia. Então, passamos pela galeria da passagem Y e seguimos pelo Viaduto Santa Tereza, findando o percurso na Serraria Souza Pinto.
PRIMEIRO TRAÇADO URBANO DE BELO HORIZONTE
Nota-se,
pelo traçado, a grelha citada anteriormente. Pela perspectiva de Hertzberger, a
organização da cidade por uma grelha se dá pela necessidade de ordenar o
desenvolvimento dela, já que muitas cidades são formadas organicamente e
resultam em um estado de desordem. Nesse sentido, o ordenamento funciona como
uma espécie de grade e o desenrolar da cidade se daria por meio de uma essência
organizacional semelhante a um projeto, em que a estrutura pré-estabelecida é
respeitada. Contudo, é equivocado dizer que essa estratégia é opressiva, uma
vez que o preenchimento das quadras é desenvolvido de maneira diferente com o
passar das épocas, escalas e características do local. No exemplo de Belo
Horizonte, isso é acentuado no loteamento destinado a essas grades, por
exemplo, no início da construção da capital, a cidade foi dividida em algo
semelhante a setores, como setor comercial, próximo as linhas ferroviárias, o
setor nobre mais acima, onde ficavam as residências de alto padrão e a catedral
municipal, e o setor dos principais equipamentos da cidade, como escolas e
hospitais. No entanto, com as diferenças históricas e do público que habitou a
região em diferentes épocas, tivemos a dissolução desses setores e hoje vemos
na região central de Belo Horizonte uma mistura de comércios, residências,
órgãos públicos, entre outros. Podemos, então, chegar ao conceito da Urdidura e
Trama, em que, a grade seria a Urdidura, e as mudanças ocorridas no uso e
detalhamento dos prédios que preenchem a grade seriam a Trama, ou seja, essa
estrutura é flexível quanto ao detalhamento de cada sítio.
PRAÇA SETE DE SETEMBRO
Todo
esse contexto, foi dado para que pudéssemos chegar ao nosso primeiro
ponto do trajeto, a Praça Sete de Setembro. Temos, em suma, que ela foi desenhada
por Aarão Reis no final do século XIX, o local já se chamou Praça Doze de
Outubro. Mas, em 1922, o nome Praça Sete de Setembro tornou-se oficial, em
função das comemorações do centenário da Independência do Brasil.
ESTRUTURA DA PRAÇA SETE DE
SETEMBRO
O aspecto aéreo observado na fotografia, ocorre devido a um tipo comum de esquina no sistema de grelha, em que é possível observar oito fachadas diagonais, que ampliam cada intersecção, formando a Praça Sete de Setembro e propiciando um alívio diante da monotonia das ruas e avenidas compridas.
Nesse
sentido, há oito construções que circundam a praça, em cada um de seus pontos.
Os edifícios têm uma conformação triangular que acompanham à malha urbana e a
disposição deles dirige a atenção para o centro da praça, o qual está
localizado o Obelisco da Praça Sete de Setembro. A maioria dos oito edifícios
que circundam a Praça Sete, possuem muitos vidros em suas fachadas, o que é bom
pois aumenta o contato de quem está dentro deles com o exterior. Outro fator é
que a fachada de alguns dos prédios antigos do entorno da Praça Sete de
Setembro supõe uma organização interior dividida em diversos setores, no
entanto, não são assim por dentro, reduzindo as fachadas a uma mera decoração
urbana. Ademais, a falta de “intervalos” entre a portaria deles e a rua compõe
uma demarcação rígida entre as áreas com diferentes demarcações territoriais.
O OBELISCO DA PRAÇA SETE DE SETEMBRO
O obelisco da praça Sete é um marco comemorativo dos 100 anos da independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822. O monumento foi lançado em 7 de setembro de 1922, na confluência das avenidas Afonso Pena e Amazonas, local considerado o marco zero da cidade.
As diferenças de níveis, presentes
no monumento, são “apossadas” em diversas situações no cotidiano. Na
apropriação mais comum, as pessoas se sentam em sua base, normalmente grupos de
amigos, para dialogar, o que cria um contraste em meio a grande movimentação
existente no local todos os dias. Em outras situações, como protestos, os
níveis mais altos servem como palco, para que a multidão ouça os apelos do
grupo que reivindica algum direito, ou seja, representantes do grupo, sobem até
o degrau mais alto da estrutura e fazem um apelo ao público diverso para que
seus direitos sejam garantidos. Já em comemorações, como o carnaval e futebol,
a praça é tomada por multidões que se divertem ouvindo as marchinhas
carnavalescas ou comemorando a vitória de seu time.
O ESPAÇO DE CIRCULAÇÃO AO
REDOR DA PRAÇA
Os corrimãos que circundam a
praça, além de sua função principal de evitar acidentes, servem como apoio para
mercadorias, como um local para as pessoas se apoiarem enquanto esperam o sinal
abrir, como um local para apoiar bicicletas, dentre outras funções, ou seja, são
uma forma polivalente, que possibilitam diversos usos sem a necessidade de
mudar a estrutura original.
O calçadão leste da Rua dos Carijós é um trecho exclusivo para o trânsito de pedestres. Ele representa uma boa articulação entre o espaço público e o espaço privado por meio dos comércios que utilizam a rua para colocar mesas e cadeiras. Nessa situação, podemos ver a relativização entre público e privado e como isso muda a percepção do usuário sobre a responsabilidade de manutenção desses lugares.
RUA ESPÍRITO SANTO
No quarteirão da Rua Espírito Santo é possível observar outros aspectos que se relacionam com o livro. Ao falar do espaço habitável entre as coisas, Hertzberger chama atenção para as irregularidades da cidade que ganham novos usos e articulações através da vivência cotidiana. Assim, qualquer superfície plana disponível tende a ser usada como bancada, apoio, assento ou encosto, explorando ao máximo as possibilidades de uso desse espaço. Contudo, ele também diz que, muitas vezes, esses novos usos cotidianos desagradam e, por isso, são desenvolvidas maneiras de evitá-las, o que seria a chamada Arquitetura Hostil, ainda que ele não use essa expressão no livro. Isso pode ser observado na seguinte superfície no cruzamento entre o calçadão e a Espírito Santo.
VIADUTO SANTA TERESA
O Viaduto Santa Tereza é uma estrutura polivalente, pois, sem necessidade de grandes alterações ou modificações, pode acomodar várias funções. Além de dar passagem ao fluxo de veículos, ele também pode servir de ponto de encontro para manifestações e suas muretas, muitas vezes, são apropriadas informalmente como assentos e apoios. O grafite, muito comum no viaduto e na parte inferior dessa estrutura - em frente a serraria -, é um exemplo de demarcação por parte dos usuários desta área aos olhos dos outros. Dessa maneira, a arquitetura é usada como um instrumento de afirmação da identidade dos usuários, no caso, muitos rappers e jovens, haja vista que várias competições de rap acontecem debaixo do viaduto.
SERRARIA SOUZA PINTO
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